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Dúvida Razoável

Você sabe que eu sei que você sabe?

“Esses terráqueos são estúpidos. Isso os torna imprevisíveis”. – V: A invasão (1983)

“Suponha que um pai diga a suas crianças – um menino e uma menina – que não devem se sujar. Elas brincam na rua, e acabam as duas sujando suas testas. As crianças não podem ver a lama em suas próprias testas, já que está acima de seus olhos. Mas cada uma delas pode ver a lama na testa da outra. Como elas querem ver uma à outra levando castigo, nenhuma diz nada. Por acaso, estas crianças também são muito inteligentes, de fato, nunca cometem erros em lógica ou falham em deduzir algo que pode ser deduzido logicamente. Você pode chamá-las de prodígios de lógica. Além disso, elas nunca mentem. Por fim, o pai chega e diz: ‘Pelo menos um de vocês tem lama na testa’. Ele pergunta à garota: ‘Há lama na sua testa?’. Ela responde: ‘Não sei’. O pai então pergunta ao garoto ‘E você, há lama na sua testa?’. Ele responde a contragosto: ‘Sim’”.

Entender este conto de fábulas lógico é simples. O garoto deduziu que tinha lama em sua testa porque caso não tivesse, sua irmã teria visto tal. E como pelo menos um deles estava sujo, ela saberia que seria ela a estar com a testa suja, respondendo ao pai de acordo. Uma vez que ela não sabia se tinha ou não lama na testa, isso só poderia indicar que ela havia visto lama na testa dele. Talvez ela também estivesse suja – como estava – mas ao dizer que não sabia se era ou não pelo menos um dos irmãos que estavam sujos, ela permitiu que o irmão deduzisse que ele sim estava sujo. Elementar.

O que é fascinante aqui é algo que você pode nem ter estranhado a princípio.

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Descubra seu novo memesigno

Para saber mais sobre a atualização científica de seu signo de acordo com os memeplexos:

Se você se identificar vagamente com seu novo memesigno, não será preciso recorrer às energias do Trollface para entender isso. U Mad?

É apenas um desvio para confirmação. A partir do momento em que, mesmo por brincadeira, você busca se auto-avaliar para descobrir traços de Filosoraptor, será fácil encontrar aquilo que confirme sua crença e nem se irá notar aquilo que a contradiga. Adicione o fator acaso — talvez você seja mesmo um filósofo — e tem-se tanta margem para acertos quanto qualquer outro sistema arbitrário de adivinhação.

O mesmo se aplica, claro, à astrologia popular e todos os tipos de artes divinatórias. Assim como a astrologia nada mais tem a ver com os astros, estudados hoje pela astronomia, estas artes divinatórias nada têm a ver com prever o futuro, e sim com formas de introduzir a aleatoriedade e a arbitrariedade em processos de auto-avaliação. Descobrir o Forever Alone ou o Trollface dentro de nós e avaliar como estamos vivendo também tem a sua validade.

Isso, claro, na melhor das hipóteses. Mais comumente, são apenas besteira mesmo, tão válidos quanto o zodíaco dos memes ou a Bundomancia.

Uma espécie fabulosa em um planeta maravilhoso

“Bom dia. Talvez você seja um desses milhões de seres humanos que acabam de acordar no meio da cidade, um pouco deprimidos, um pouco entediados com a vida cotidiana e com a ideia de que este planeta é uma merda. Bem, é hora de dar play no vídeo acima e ver o preview da nova série da BBC, ‘Human Planet‘. Ligue os alto-falantes. Mudará seu dia”. [Fogonazos]

Feliz Natal!

Enquanto celebramos uma data repleta de diversos significados a NASA divulga este belíssimo vídeo de um pôr-do-sol um tanto diferente.

É um pôr-do-sol marciano, capturado pelas lentes de nossa valente sonda robótica Opportunity.

Enquanto na Terra o céu é azul e o Sol ao fim do dia toma tons avermelhados, em Marte ocorre exatamente o oposto. O Sol é, claro, o mesmo, o que muda é a atmosfera, que no planeta azul absorve e então irradia tons azulados, e no planeta vermelho… tons avermelhados. Ao vermos o Sol próximo do horizonte, os raios de luz passam por um caminho mais longo através da atmosfera e esse efeito se intensifica. Seu tom aparente será o do espectro de cores complementares àquelas absorvidas pelo próprio céu: vermelho na Terra, azul em Marte.

Motivo pelo qual Luke Skywalker vendo dois sóis se ponto em Tatooine pode parecer muito bacana, mas uma pequena sonda robótica bem real e mais próxima de R2D2 já assiste a um Sol poente ainda mais interessante.

Com a ciência, comemorar solstícios e o nascimento ininterrupto do Sol pode ir muito além. Feliz Natal!

Erupção de Gigantesco Filamento Solar

Há algumas horas o satélite Observatório de Dinâmica Solar da NASA capturou esta espetacular sequência: é uma proeminência solar com mais de 700.000km de extensão. Mais de 50 planetas Terra caberiam enfileirados dentro deste filamento de plasma mantido coeso por intensos campos magnéticos, e como se pode ver, esta descomunal atividade se desenvolveu ao longo de poucas horas. A proeminência continua visível no momento em que publicamos este post, o que você pode conferir na página da NASA. Tudo quase em tempo real.

Fim do mundo? Longe disso, a explosão não foi em nossa direção, e ainda que fosse, esta proeminência em particular não lançou muito material. Mais do que isso, a imagem que vemos foi capturada em ultravioleta, e como Phil “Bad Astronomer” Plait comenta, em luz visível a proeminência mal pôde ser vista. “Relaxe e aproveite a beleza disto“, recomenda o astrônomo.

Esta fabulosa atividade invisível a olho nu é mais uma forma pela qual a ciência destaca a majestosa imperfeição da estrela que nos move.

Nuclearoids | [TGIF]

Um jogo online de reação em cadeia. Em Nuclearoids, seu objetivo é explodir todos os núcleos atômicos destacados no começo de cada nível, clicando em apenas um deles para iniciar a reação.

A brincadeira é uma referência a reações nucleares em cadeia, onde um núcleo atômico instável pode ser bombardeado por um nêutron, por exemplo, e ao se desintegrar lança mais nêutrons que por sua vez desintegram outros núcleos. Conceito um tanto complicado de expressar e entender em palavras, mas que o joguinho online deve transmitir em questão de segundos. A reação de desintegração, ou fissão dos núcleos, se feita do modo certo se torna uma reação em cadeia até que todos os núcleos, ou boa parte deles, tenha se dividido. Em um material radioativo e com uma massa significativa, a reação pode rapidamente liberar enormes quantidades de energia, no que conhecemos como bombas atômicas.

No joguinho, inofensivo, as primeiras fases são bem fáceis. É porque a matéria está de certa forma próxima da “massa crítica”, na qual a reação em cadeia pode ocorrer mesmo espontaneamente. Clicando em praticamente qualquer núcleo se assiste a um show de luzes. À medida que as fases vão avançando, criar uma reação em cadeia vai se tornando mais difícil.

O jogo não chega a ser uma lição de física nuclear, e inclui “nuclearoids” com comportamento muito diferente de qualquer núcleo atômico conhecido – não que aqueles mais comuns sejam realmente modelos fiéis de átomos reais. Além da diversão, contudo, têm toda essa bagagem intuitiva a conceitos mais complicados. A natureza é ainda mais rica em complexidade e atividade que os momentos mais brilhantes desse joguinho.

Nuclearoids se soma a outros joguinhos excelentes como Orbitrunner, que dá uma noção das leis de Kepler, e Starlight, ensinando algo de astronomia.

O navio de Teseu e a impermanência do Carbono-14

“Nenhum homem pode atravessar o mesmo rio duas vezes, porque [já] nem o homem nem o rio são os mesmos.” – Heráclito

“O navio com que Teseu e os jovens de Atenas retornaram de Creta tinha trinta remos, e foi preservado pelos atenienses até o tempo de Demétrio de Falero, porque eles removiam as partes velhas que apodreciam e colocavam partes novas, de forma que o navio se tornou motivo de discussão entre os filósofos a respeito de coisas que crescem: alguns dizendo que o navio era o mesmo e outros dizendo que não era.” – Plutarco

O paradoxo do barco de Teseu é também uma das doutrinas essenciais do Budismo: a impermanência, a consciência de que tudo está em fluxo constante. A profundidade deste conceito pode ser apreciada tanto filosoficamente quanto vislumbrada cientificamente. Para isto, compreenderemos melhor a datação por radiocarbono, conhecida também como teste de Carbono-14. É uma longa jornada que vai literalmente de estrelas a muitos anos-luz de distância até a ponta de seus pés, mas àqueles dispostos a dedicar algum tempo e esforço a viagem valerá a pena.