Oxford, Cambridge, Harvard e Yale: ligadas pelo acaso

Para os ingleses que viviam no século XI o legal era ir estudar na França. Lá sim a educação era de alta qualidade, valia a viagem e o investimento. E o povo de outros países pensava assim também: enviavam seus alunos para aprenderem tudo com os franceses! Acontece que depois de um tempo o então rei da França (ou o que era a França naquela época) resolveu cortar o barato do pessoal. Ele raciocinou bem e viu que conhecimento é algo muito importante e não deve ser liberado assim tão fácil não. Decidiu então expulsar todos os alunos estrangeiros, incluindo os pobres estudantes britânicos.

De volta para casa os ingleses tiveram que se contentar com o que tinham. Tratava-se de uma pequena escola na cidade de Oxford, fundada ainda no século X. Não era lá grande coisa, porém eles queriam continuar os estudos. Para sorte de todos, esse movimento chamou a atenção das autoridades britânicas. Meio chateados com a posição da França, eles decidiram investir nas instituições de ensino nacionais. A escolinha de Oxford fora a primeira delas, então começariam por ali. Com a grana do governo a entidade cresceu, tornando-se a primeira universidade do mundo anglo-saxão.

Tudo ia bem, alunos e mais alunos freqüentando a universidade. A maioria estudantes cristãos, franciscanos, padres, monges, esse pessoal da Igreja Católica. No entanto, nem mesmo a ligação com os temas do altíssimo impediu que em 1202 um crime terrível acontecesse. Dois alunos foram acusados de estuprarem uma mulher. Os dois foram condenados à morte e como punição Oxford foi dissolvida por tempo indeterminado.

Mais uma vez o resultado foi um bando de estudantes sem lugar para ir. Alguns seguiram para o leste e se instalaram numa escolinha na cidade de Cambridge. Uma vez que Oxford estava impossibilitada de continuar as aulas, investiram nesse novo local. Com o tempo a precursora voltou a funcionar, mas Cambridge já era uma forte oponente.

Nesse meio tempo eis que Colombo atravessa o Atlântico e descobre a América. Alguns anos depois muitos ingleses deixam sua ilha para se instalar no que seria conhecido mais tarde como os Estados Unidos da América. Esses caras sabiam que, seja em casa ou do outro lado do oceano, se uma nação deseja ser grande precisa investir em educação.

Em 1636 a cidade de Boston era uma pequena vila recém criada por um grupo de peregrinos ingleses. Faltava quase tudo, de infra-estrutura básica até alimentos. Apesar do cenário desanimador, os puritanos que ali chegaram tiveram uma idéia louca: nossa vila não tem esgoto, calçamento ou um hospital decente, mas precisa logo ter uma universidade.

Acharam um terreno numa vila próxima (menor ainda que Boston), trocaram o nome da tal vila para Cambridge (homenagem à universidade inglesa) e subiram um prédio. Batizaram-na de New College e chamaram o pastor John Harvard para tornar-se o primeiro reitor. O tal Harvard tinha uma dura missão, transformar aquela loucura numa universidade de verdade. Como ele fez isso?

Na verdade, ele não o fez. Morreu apenas três anos depois da fundação. No entanto, deixou uma boa herança, fato que colocou seu nome na placa da primeira instituição de ensino superior daquele que seria o país mais poderoso do planeta.

As áreas de estudo iniciais de Harvard eram matérias religiosas, uma vez que a instituição fora criada por puritanos. Só em 1708 que as coisas começam a mudar, com a entrada de John Leverett, primeiro reitor não ligado ao clero puritano. Foi daí para frente que a universidade passou a se desligar dos temas cristãos e ocupar-se da ciência.

Harvard formou vários bons alunos e muitos deles se mudaram para o estado vizinho, Connecticut. No começou do século XVIII eles decidiram abrir uma universidade lá também, na cidade de New Heaven. E aqui parece que a história se repete. Do mesmo modo que em Harvard, essa instituição teve um grande apoiador (Elihu Yale), o qual mais tarde também a reabatizou (antes se chamava Collegiate School of Connecticut). Os fundadores também eram religiosos e só depois de um período eles finalmente passaram a estudar ciência mesmo. E como Oxford, Cambridge e Harvard, Yale seguiu uma prestigiosa trajetória no mundo acadêmico, isso até formar o ex-presidente dos EUA, George W. Bush.

Curiosidades de Sobremesa

1 – Alguns dos “fracos” que estudaram em cada uma das universidades citadas aqui.

Oxford: Aldous Huxley, Oscar Wilde, J. R. R. Tolkien, Stephen Hawking e Richard Dawkins.

Cambridge: Francis Bacon, Isaac Newton e Charles Darwin.

Harvard: Henry Thoreau, Theodore Roosevelt, Franklin Roosevelt, John Kennedy e Barack Obama.

Yale: Bill Clinton, Harold Bloom e Tom Wolfe.

2 – Tanto Oxford e Cambridge quanto Harvard e Yale têm rixas antigas entre seus alunos, em especial nas disputas esportivas. Não há uma explicação coerente para isso, no entanto olhando a história delas não há porque brigar: são farinha do mesmo saco.

3 – Robert Langdon, o simbologista do livro O Código da Vinci, é professor em Harvard.

4 – Existem vários rankings que enumeram as melhores universidades do mundo. Os resultados variam em posição, mas geralmente Harvard é a melhor de todas. Das outras, Cambridge vem em segundo, Oxford em terceiro e Yale em quarto. Isso comparando somente as quatro.

5 – Em média somente 8% dos alunos que se candidatam conseguem uma vaga nessas universidades. E estou falando das vagas para pagar mensalidade, não das bolsas de estudo. E por falar em mensalidades, eles giram em média na casa de 3000 dólares por mês nas quatro instituições.

6 – A Universidade de Karueein (atual Marrocos) é a mais antiga do mundo ainda em funcionamento, fundada em 859 pelos árabes.

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