Quando o sucesso disfarça o fracasso

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Lisandro e eu frequentamos a mesma padaria. Ele é um idoso animado, adora puxar conversa com os clientes sobre qualquer assunto que encontra no jornal do dia. Quem não o conhece acaba correspondendo, mas os fregueses antigos preferem evitá-lo. É que o Lisandro é um homem preconceituoso. Já o peguei dizendo que “na ponte dá muito acidente porque é por ali que passa o pessoal da favela. Pobre não devia ter carro! São uns facínoras!”. Certa vez algumas pessoas se retiraram quando ele afirmou ter sido patrão de uma empregada “negra, mas que trabalhava como branca”.

Lisandro não perdoa ninguém. Mesmo seu irmão Jaime – um senhor gentil que vez ou outra o acompanha no café-da-manhã – também é vítima dos julgamentos. “Esse aí nunca quis nada. Quando era novo foi para a Guiana atrás de aventura, não queria trabalhar. Vive com salário mínimo, só vem num lugar como esse quando eu trago”. O irmão mais velho não se abala. Continua tomando seu chá, ignorando a platéia consternada.

Um dia resolvi conversar com o Jaime. “Qual é a do seu Lisandro?”. Para minha surpresa, seu tom de voz era muito assertivo. Não batia com as atitudes mansas que demonstrava no balcão da padaria. Falava em um tom reflexivo.

Sabe, a gente tem que ter paciência. O meu irmão é uma pessoa sozinha. Você viu como ele quer conversar com todo mundo? É porque ninguém conversa com ele em casa. Às vezes venho aqui fazer companhia, mas aí já viu, ele fica dizendo que sou pobre. Na verdade sempre gostei de viver com simplicidade. Moro em uma casa decente, meus filhos me amam. Se você for pensar bem, pobre é ele. Encheu-se de dinheiro, mas nunca aprendeu a ser uma boa pessoa.

O caso de Lisandro mostra como a ideia vigente sobre o sucesso é limitada. Não adianta ter ganhos no campo emocional. Só recebe o rótulo de bem-sucedido aquele que aprendeu a fazer dinheiro. Um bom relacionamento com os filhos de nada vale se acontece dentro de um barraco. Um marido que respeita sua mulher não ganha moldura adequada em um carro velho. Um filho nunca será grato o suficiente caso não ofereça à mãe o orgulho de um emprego rentável.

Um exemplo dessa prática pode ser encontrado na vida de Nikola Tesla. As invenções dele tornaram possível o mundo moderno, mas o “coitado” nunca soube capitalizar o próprio talento. No fim da vida foi chamado de cientista louco por propor inovações absurdas, mas claramente a má vontade de seus contemporâneos nasceu de sua ruína. Afinal, como respeitar um homem que não atingiu o sucesso financeiro?

O dinheiro tem a estranha capacidade de diminuir as qualidades de quem não o possui. Por outro lado, os pecados de seus donos são sempre perdoados. Thomas Edison se apropriou de várias idéias de Tesla e certamente propunha questões tão “loucas” quanto ele, porém sempre teve o respeito de todos por ser um homem rico.

Julgar o sucesso das pessoas apenas por sua capacidade de fazer dinheiro é um jeito pobre de encarar as coisas. Ousaríamos chamar Van Gogh, Einstein e Kafka de fracassados? Ou daríamos um Nobel para Kim Kardashian? Ser bem-sucedido de verdade é uma tarefa que envolve muitos outros aspectos. Pode incluir uma parcela material, mas é inegável que a qualidade da relação com as pessoas e consigo tem uma relevância maior. Quem alcança esse equilíbrio acumula para si uma fortuna intocável.

Percebe que bem-resolvido é melhor que bem-sucedido. Constata com clareza que o verdadeiro sucesso não se baseia em cumprir o que o mundo espera de nós, mas sim encontrar uma maneira particular de construir a própria felicidade.

Um abraço!

Pedro Schmaus