Viajar de verdade é sair da zona de conforto

life-begins-end-comfort-zone

Arthur é um viajante do tipo “muitas compras e centenas de fotos no Facebook”. Faz passeios turísticos que proporcionam experiências estéreis, passa mais tempo no celular do que contemplando, só come pratos que conhece e se incomoda com qualquer coisa distinta da sua própria cultura. Arthur é completamente feliz com esse comportamento. Está fazendo o que lhe apetece, curtindo sua zona de conforto da melhor maneira possível. E quem ousaria criticar Arthur?

Há em nossa sociedade essa ideia de que – para ser feliz – é preciso se fiar no slogan “eu faço o que quero, eu faço o que gosto”. É realmente um conceito magnânimo e respeitável, base dos direitos individuais. Porém, por ser uma afirmação tão contundente, esconde perguntas extremamente complexas. Uma delas talvez seja a mais importante: será que você está fazendo o que quer ou na verdade só está fazendo o que lhe ensinaram (doutrinaram) a gostar?

Imagine um rapaz criado por pais mentirosos. Em sua infância sempre ouvia promessas de ir ao parque ou ao cinema, mas isso nunca se realizava. É possível e até natural que esse menino – ao chegar a idade adulta – torne-se alguém desconfiado de quem o cerca. Ele aprendeu a agir assim, estar com sempre com o pé atrás é como ele se sente bem e confortável. E se a mesma coisa aconteceu com nosso viajante Arthur?

Conjecture que ele cresceu vendo na TV o quão felizes ficam as pessoas quando compram algo. Sendo assim, aprendeu a ser feliz ao consumir. Talvez ele tenha recebido do pai uma educação com poucos estímulos culturais e é bem possível que a mãe tirava todos os pedacinhos de cebola do seu prato. Pode ser que esse background tenha tornado Arthur esse tipo de viajante que ele é. Por isso é compreensível que Arthur seja assim, do mesmo modo que o garoto com pais mentirosos tenha se tornado uma pessoa desconfiada.

No entanto, o que seria melhor? Que Arthur visse o mundo pelo prisma do seu umbigo ou de uma maneira mais abrangente? Ou que o garoto desconfiado fosse para sempre melindroso ou retomasse a sua fé no ser humano? Melhor: quais seriam os resultados para a vida de cada um deles dependendo da direção que tomassem?

É bonito dizer que as pessoas fazem o que querem com suas existências. O difícil é discutir os resultados dessas escolhas.

Arthur pode chegar à velhice e enxergar que podia ter feito coisas mais interessantes, do mesmo modo que o rapaz com pais mentirosos pode se arrepender por não ter confiado mais nas pessoas. Quantas coisas ambos podem ter perdido por fincarem os pés no acomodado terreno do “eu faço o que gosto, não quero me incomodar”? Por isso, faça também o que você ACHA que não gosta. Pode ser que encontre ali algo que mude a sua vida. Caso não ache, pelo menos aprendeu que aquilo não serve para você.

Abraço!

Pedro Schmaus

Mais sobre a coluna Viagens do S&H

Cuzco – Machu Picchu – Amsterdã – Paris – Pucon – Vaticano – Mendoza – Budapeste – Lima

PS: no meu Facebook informo dicas personalizadas para quem tiver dúvidas sobre viagens, só mandar a pergunta: www.facebook.com/pedroschmaus