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Mundo Hiperativo

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Na metade do meu sonho

Quando eu tinha 22 anos a realização dos meus sonhos era tão palpável quanto o boleto do meu apartamento alugado. Não havia dúvida ou medo. Eu tinha as ferramentas, a vida toda pela frente e a pressa típica da juventude. Lembro de olhar o mapa e traçar uma meta de 80 países. Um número que considerava um “mínimo honroso”, algo que eu certamente superaria em pouco tempo. Mal sabia eu como sonhar é difícil.

Hoje tenho 36 anos e conheço 40 países. Estou na metade do meu sonho. O tempo passou rápido, mas os carimbos no passaporte vieram bem devagar. O boleto do meu apartamento alugado continua sobre a mesa e outros novos surgiram. Ainda há muito para fazer e às vezes sinto medo de não cumprir a promessa. Eu sonho há tanto tempo e só cheguei na metade do que a arrogância da minha juventude chamou de “mínimo honroso”.

Esse é meu aviso para você: sonhar dá um trabalho enorme, por isso comece logo. Não negue a si mesmo essa chance. O preço de sonhar é alto, mas mesmo um sonho pela metade é melhor que abrir mão de tentar.

O que alcancei ainda não é tudo que almejei, mas já me enche de dignidade. Se eu partisse agora é certo que não estaria satisfeito, mas me sentiria orgulhoso. Talvez eu nunca chegue lá, mas talvez eu vá a 120. Eu ainda tenho as ferramentas. Você também.

Feliz ano novo!

Pedro Schmaus

Sobre apropriação cultural

“O cidadão norte-americano desperta num leito construído segundo padrão originário do Oriente Próximo, mas modificado na Europa Setentrional, antes de ser transmitido à América. Sai debaixo de cobertas feitas de algodão cuja planta se tornou doméstica na Índia; ou de linho ou de lã de carneiro, um e outro domesticados no Oriente Próximo; ou de seda, cujo emprego foi descoberto na China.

Todos estes materiais foram fiados e tecidos por processos inventados no Oriente Próximo. Ao levantar da cama faz uso dos “mocassins” que foram inventados pelos índios das florestas do Leste dos Estados Unidos e entra no quarto de banho cujos aparelhos são una mistura de invenções européias e norte-americanas, mias e outras recentes. Tira o pijama, que é vestiário inventado na índia e lava-se com sabão que foi inventado pelos antigos gauleses, faz a barba que é um rito masoquístico que parece provir dos sumerianos ou do antigo Egito.

Quando registrar a própria vida é mais importante que viver

real

Uma criança espera na beira da piscina. Antes de saltar na água ela quer que os pais a vejam. Grita, gesticula e implora por atenção. Seu comportamento precisa ser visto, aprovado e aplaudido, um traço inequívoco da necessidade humana de aceitação.

Acesse qualquer rede social é será fácil perceber como isso também aflige milhões de adultos. Sites como Facebook ou Instagram não passam de plataformas para que atividades ordinárias sejam divulgadas para que encontrem o tão desejado reconhecimento em forma de curtidas.

Acontece que – ao contrário do exemplo da criança – nas redes sociais o processo não ocorre na presença da platéia. No palco virtual é preciso primeiro registrar o pulo na piscina para depois postá-lo. Aqui a dinâmica de atrair a atenção dependente do registro. É por isso que aquele ótimo show está cheio de gente empunhando celulares em vez de curtir as músicas.

De algum modo registrar o momento tornou-se mais importante que viver o momento. Mas o que eu ganho se as minhas ações ocorrem só para chamar a atenção do público? É melhor pular na piscina pela experiência em si ou para mostrar aos outros? A resposta é sua. As conseqüências também.

Um abraço!

Pedro Schmaus

Os covardes já estão mortos

Layers of fear - Bartosz Kapron

Eu vejo pessoas com medo. Eu vejo gente boa baixar a cabeça diante de um chefe babaca temendo perder um emprego ordinário. Eu vejo alguém deixar de conhecer um bom restaurante porque ele fica em um bairro desconhecido ou abrir mão de uma boa conversa por sentir receio do outro.

Eu não sei porque sentimos tanto medo. Talvez seja o excesso de notícias ruins, afinal elas chamam mais atenção, elas vendem mais jornais. De qualquer forma eu quero lhe dizer: não sinta medo. Quem sente medo já está morto. Não há vida que preste se rodeada o tempo todo de temor.

Não vou mentir, eu sei que esse mundo é perigoso, mas a sua sensação de segurança é falsa. Você não está mais a salvo que ninguém. A morte inevitavelmente chegará para todos. Como ela irá lhe encontrar? Satisfeito ou insatisfeito com a vida que teve? O que vale não é a quantidade de dias vividos, mas a variedade das experiências.

E se o novo lhe der um frio na barriga lembre-se que você pertence a uma espécie que saiu DESCALÇA da África e mesmo assim colonizou o planeta inteiro. Os nossos antepassados atravessaram cordilheiras e desertos por pura audácia. A aventura está em seu sangue, é um traço fundamental da sua condição humana.

Não deixe que os outros lhe encham de medo. Ouse. A coragem é a maior qualidade que existe.

Um abraço!

Pedro Schmaus