Made in Japan Parte 1: Kawasaki

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Seu pai vende quimonos, a situação financeira da sua família não é lá essas coisas. Quais são suas perspectivas? Que profissão você irá escolher para ganhar seu sustento? Fosse um homem qualquer, o senhor Shozo Kawasaki teria escolhido um rumo muito mais simples para a sua vida. No entanto, ele era uma dessas pessoas capazes de realizações extraordinárias. A primeira delas foi uma escolha: ser dono de um barco.

Kawasaki morava em Nakasaki, local que abrigava o único porto aberto ao Ocidente naquela época, meados do século XIX. Com muito custo conseguiu comprar um barco. O enchia de mercadorias e criava novas rotas de comércio, tornou-se um empresário próspero. No entanto, eis que “o destino cruel e traiçoeiro marcou a hora e o lugar”. Seu barco afundou por causa de uma tempestade. Anos e anos de trabalho duro terminaram no fundo do mar… Mas Shozo tirou dali duas importantes lições. A primeira delas era que os barcos japoneses não prestavam. A outra se tratou de uma escolha ainda mais ousada. Shozo Kawasaki não seria somente dono de barcos, mas seria também um construtor de navios.

Surgia assim em 1876 o Estaleiro Kawasaki, construindo navios com base no modelo ocidental. Agora dona de rotas e produtora dos meios de transporte, a empresa de Shozo chamou a atenção do governo. Com o apoio do Estado passou a fornecer navios para diversas iniciativas governamentais e expandiu ainda mais os negócios. Em um avanço espetacular, a Kawasaki comprou várias outras empresas e em três décadas passou a fabricar locomotivas, carros, pontes, aviões, motores de navio, helicópteros, tratores, enfim, uma corporação monstruosa, mais tarde batizada de Kawasaki Heavy Industries.

Porém, o fato é que a maioria das pessoas desconhece essa enormidade da Kawasaki. Aqui no Brasil a marca só é lembrada por um segmento: motocicletas.

Não que eles não tenham feito bonito nessa área. A brincadeira começa em 1949 quando a Kawasaki fez algumas parcerias técnicas com a BMW para produção de motores de aviões. Junto com essa cooperação veio também o know how para construção de motores para motocicletas. Em 1954 chegava ao mercado então o primeiro modelo, batizado de Meihatsu, em versões 60, 150 e 250 cilindradas. Era uma máquina confiável que logo passou a ser admirada pelos motociclistas. No estilo custom, ela tinha o que a maioria das motos japonesas tem, um motor durável e mecânica a prova de falhas. À época eles tentaram também se aventurar no segmento de scooters, mas a Mitsubishi era dona do mercado e eles não conseguiram espaço.

Porém, outros segmentos ainda precisam ser preenchidos. Na década de 60 a Kawasaki compra uma fábrica de motos falida chamada Meguro. Essa companhia tinha um bom trabalho com motocicletas potentes e essa experiência acabou sendo passada para a Kawasaki, que até então só produzia motos com motores de baixa cilindrada.

Em 1966 começa então a produção de grandes customs, a primeira delas uma 650 cilindradas chamada de W1. Essa tentativa inicial, e algumas posteriores, não deram muito certo. As motos eram pesadas e ainda lentas se comparadas com as concorrentes. Foi só em 1969 que a Kawasaki finalmente ganha o respeito do público com a chegada da H1, uma máquina de 500 cilindradas.

Daí para frente a Kawasaki continuou sendo bastante respeitada, no entanto sua fama chega mesmo ao Brasil somente na década de 1980. Nesse período, no Japão, a fábrica introduzia sua ZX series, que mais tarde daria origem à família Ninja. Foi essa moto esportiva que encantou muitos motociclistas brasileiros. Inicialmente lançada numa versão de 250 cilindradas, o modelo mais conhecido levava um motor com potência de 600 e com boa parte da estrutura em alumínio. Quem viveu os meados da década de 1990 lembra muito bem: ter uma Kawasaki Ninja verde limão era tirar muita onda!

Curiosidades de Sobremesa

1 – A Kawasaki Ninja ZX-14 é atualmente a moto mais rápida da Kawasaki. Chega a 300 quilômetros por hora.

2 – Aliás, por falar em velocidade, as fabricantes japonesas de motos entraram num acordo para limitar a 300 quilômetros por hora a velocidade de suas máquinas para venda aos consumidores comuns. Uma manobra para evitar a perda desnecessária de vidas.

3 – Uma das propagandas da marca me surpreendeu pelo bom humor:

4 – E da mesma série, incluindo um amazing Fuck You:

5 – E quem lembrou da música citada logo no início do post realmente pode dizer que curte canções bregas! “Mas o destino cruel e traiçoeiro marcou a hora e o lugar!”.