Coca-Cola, Epson e Revlon

Antes de começar…

O Dicionário das Marcas volta à internet hoje. Mas que diabos é Dicionário das Marcas? Era novembro de 2005 quando ele surgiu, num dia em que eu pensei: poxa, todo mundo é capaz de lembrar dos nomes de milhares de marcas, mas ninguém sabe o que esses nomes significam. A partir daí comecei um blog no qual os textos falavam sobre a origem desses nomes, uma pesquisa realmente etimológica, na qual eu queria encontrar a raíz do nome da marca. Não é que o pessoal gostou? Eu até posso dizer que fiz sucesso na época. 

Porém, envolvido em outros projetos, eu acabei parando de escrever o DM. No entanto, hoje eu ganho a oportunidade de voltar com a ajuda dos autores do excepcional blog Sedentário & Hiperativo. Eles gentilmente me cederam uma coluna e também uma segunda chance de mostrar os resultados das minhas pesquisas sobre marcas.

Sem mais delongas, eu começo hoje com a mestre das mestres, a Coca-Cola. Falo também da Epson e da Revlon. Faça bom proveito!

Coca-Cola. EUA. Refrigerante. 1886.

Nem Jesus, nem Buda, nem Maomé. Os religiosos mais ferrenhos podem ficar ofendidos, mas não mudarão a verdade. Se fosse uma religião, a Coca-Cola seria a maior de todas. As pessoas que vivem hoje inevitavelmente são ou serão batizadas por pelo menos um gole da bebida. Tanto que o nome da marca já foi pronunciado em todas as línguas do planeta.

O termo foi criado por Frank Robinson, contador e amigo de John Pemberton, esse último o inventor do refrigerante. Pemberton era farmacêutico, portanto sua intenção não era criar um refrigerante, mas sim uma espécie de tônico para combater a dor de cabeça. Sendo assim, é bem provável, mas não confirmado, que a primeira fórmula da bebida levasse folhas de coca em sua composição, além de noz de cola e caramelo. Por isso Robinson teria escolhido o nome Coca-Cola, composto pelas duas principais matérias-primas do refrigerante.

Mas por que incluir folha de coca na receita da bebida? Simplesmente porque a folha de coca tem grande eficácia no tratamento de enjôo e dor de cabeça. Basta lembrar que muitos dos habitantes dos Andes mascam a folha para evitar o soroche, mal-estar causado pela altitude. Outro motivo: na época do surgimento da bebida (1886) era comum o uso dos princípios ativos da folha de coca em remédios. Esses são dois dos argumentos que sustentam a possível inclusão dessa planta na fórmula original da Coca-Cola. Cabe lembrar, mais uma vez, que essa possível inclusão existiria apenas nas primeiras versões da bebida, quando ela ainda tinha fins medicinais.

Atualmente não há no refrigerante nenhum ingrediente relacionado à folha de coca. Na verdade, até mesmo essa informação de que algum dia a fórmula da bebida levou folha de coca é questionável. A própria Coca-Cola não assume. Existem os que dizem que só a noz de cola fazia parte da fórmula. O termo “coca” teria sido inserido por Robinson simplesmente por ser sonoro e combinar com “cola”. De qualquer forma, independente do nome ou da antiga composição, os números mostram o sucesso da marca: a cada dez segundos, 126 mil pessoas consomem um produto da The Coca-Cola Company.

 
Curiosidades de Sobremesa:

1 – O termo Coke é um apelido, algo como uma abreviatura da pronúncia em inglês da marca Coca-Cola.

2 – O logotipo do refrigerante foi desenhado à mão pelo criador da marca, Frank Robinson.

3 – Pemberton vendeu os direitos de comercialização da Coca-Cola cinco anos depois de criar a bebida. Quem comprou foi um empresário chamado Asa Griggs Candler. Muita gente diz que Pemberton fez besteira ao vender a fórmula. No entanto, quem entende do assunto, sabe que o sucesso não vem do sabor da bebida em si, mas sim do marketing. Por isso Candler é considerado o grande gênio por trás da Coca-Cola. Foram suas táticas agressivas de propaganda popularizaram a marca.

4 – Mesmo assim, Candler não era infalível. Até 1894 a Coca-Cola era vendida somente em copos abertos de 237 mililitros, diretamente em pontos comerciais. Nesse mesmo ano um comerciante chamado Joseph Biedenharn propôs a Candler vender a bebida em garrafas. Candler achou que não faria sucesso e, cinco anos depois, vendeu os direitos de engarrafamento por apenas um dólar.

5 – Após a morte de Candler, seus filhos venderam as fábricas para um grupo de empresários liderados por Ernest Woodruff. Cinco anos mais tarde o filho de Woodruff, Robert, assume a presidência da empresa. Também um gênio do marketing, assim como Candler, ele foi o responsável por popularizar a Coca-Cola no mundo todo.

6 – Uma das táticas usadas por Woodruff era espalhar o logo da Coca-Cola por todos os eventos possíveis. Ele era adepto de um marketing incisivo. Em uma de suas campanhas, por exemplo, enviou representantes da empresa de porta em porta para instalar um abridor de garrafas de parede, tudo grátis.

7 – Aliás, a chegada da Coca-Cola no Brasil tem a ver com essa ousadia de Robert Woodruff. Durante a Segunda Guerra Mundial, ele prometeu que todo soldado americano poderia comprar uma Coca-Cola pelo mesmo preço pago nos EUA (cinco centavos), independentemente de onde ele estivesse. Por isso, com a instalação da base americana em Recife, na mesma época, a bebida chegou ao Brasil para fazer valer a palavra de Woodruff.

8 – O primeiro slogan da marca no Brasil foi “Coca-Cola borbulhante, refrescante, 10 tostões”.

9 – Coca-Cola faz mal? Desentope pia? Derrete um prego? Nada disso jamais foi provado.

10 – A Sprite foi o segundo refrigerante lançado pela marca, 75 anos depois de sua fundação.

EPSON. Japão. Eletrônicos. 1968.

Você já viu aquelas calculadoras enormes usadas pelos contadores? O mais legal delas é que, enquanto você digita, ela vai imprimindo os resultados. O mesmo princípio é usado nos supermercados para emissão de notas fiscais, assim como em grande parte dos estabelecimentos comerciais. É claro, nada disso seria possível sem a presença de uma mini-impressora elétrica.

A história desse invento começa na Shinshu Seiki, uma empresa voltada para o desenvolvimento de relógios de precisão. Em 1964 o Comitê Olímpico Internacional (COI) pediu que a companhia fornecesse os marcadores de tempo para as competições esportivas. Além disso, o COI pedia também que os resultados fossem impressos para acompanhamento do desempenho dos atletas.

A Shinshu Seiki logo começou a trabalhar e só parou quando construiu a EP-101 (foto), primeira mini-impressora elétrica do mundo. Porém, o uso do invento não se limitou ao esporte. Rapidamente a EP-101 ganhou o gosto dos consumidores e passou a integrar diversas outras aplicações, entre as quais as descritas no primeiro parágrafo.

A conquista de mercado da nova impressora inspirou os donos da Shinshu Seiki. Uma vez que o invento tinha dado sorte, eles resolveram mudar o nome da empresa. Pegaram então as duas únicas letras do termo EP-101 e somaram à palavra inglesa son (filho), formando algo como “EP´s son”, ou seja, filho da EP. A idéia era que todos os produtos desenvolvidos pela companhia a partir dali fossem “filhos da EP” e alcançassem o mesmo sucesso do “pai”.

Curiosidades de Sobremesa:

1 – A Epson, antiga Shinshu Seiki, é uma empresa subsidiária da Seiko Instruments.

2 – Apesar de denominada uma mini-impressora, a EP-101 tinha medidas nada modestas: 16 por 7 por 13 centímetros. Pode parecer grande, mas para a época era minúsculo.

3 – O que significa EP? Eletric Print (impressora elétrica). E o 101? Não tenho certeza, mas provavelmente o início de uma contagem de modelos.

REVLON. EUA. Cosméticos. 1932.

Os acrônimos são largamente utilizados como nomes de marcas. A palavra é complicada e o conceito também. De acordo com o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, acrônimo é uma palavra formada pela inicial ou por mais de uma letra de cada um dos segmentos sucessivos de uma locução, ou pela maioria destas partes. Muito bem, se você não entendeu nada, vamos falar da Revlon, um bom exemplo de marca acrônimo.

Revlon foi fundada em 1932 pelos irmãos Charles e Joseph Revson (Charles na foto), juntamente com o químico Charles Lachman. Ao procurar um nome para a marca, eles utilizaram o sobrenome Revson, mas com uma pequena mudança: a letra L, de Lachman, foi colocada no lugar da letra S. O resultado foi Revlon, uma palavra formada por letras de cada um dos segmentos sucessivos de uma locução (Revson + Lachman).

Curiosidades de Sobremesa:

1 – Hoje dona de diversos cosméticos, a Revlon teve um começo modesto: vendia apenas esmaltes.

2 – Acontece que o esmalte deles era diferente. Ele possuia um pigmento novo, o qual dava mais brilho à tinta e oferecia mais possibilidades de tons.  As mulheres gostaram tanto que apenas seis anos depois de sua criação a empresa já alcançava lucros milionários.

3 – Durante a Segunda Guerra Mundial a Revlon ajudou a Marinha dos EUA montando kits de primeiros-socorros para serem usados nas batalhas.

 

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