Os 7 pecados capitais do viajante

1 – Expectativa

Descrição do Pecado: o viajante espera tanto de sua viagem que – ao menor sinal de contrariedade – fica muito irritado. Isso acontece porque ele idealizou cada momento e se encheu de expectativas.

Exemplo: em visita ao Peru ouvi dois gringos muito decepcionados conversando. Eles reclamavam que o clima nublado tinha estragado a visita a Machu Picchu (nem estava tão nublado assim). Pareciam chocados com o fato de que a chuva era uma possibilidade durante sua incursão.

Solução: viagens fazem parte da vida real. A vida real, por sua vez, não é perfeita. Relaxe e viaje desarmado, sem idealizar. É bem mais provável que os grandes momentos da viagem surjam inesperadamente e não de acordo com o que você planejou.

2 – Despreparo

Descrição do Pecado: nesse caso o viajante não está preocupado com o básico. Deixa as coisas para a última hora, não se preocupa com a logística da viagem.

Exemplo: uma vez fui ao aeroporto tirar minha Carteira Internacional de Vacinação. Na fila tinha um cara fazendo o mesmo, só que ele ia viajar em duas horas. Acontece que a carteira de vacinação dele não tinha o número do lote da vacina de Febre Amarela, uma exigência da ANVISA. Resultado: não conseguiu embarcar.

Solução: planejar demais o roteiro é furada, pois você perde os momentos espontâneos, em geral os mais legais. Por outro lado, há que se atentar muito ao básico, em especial documentação, passagens, hospedagem, enfim, fazer o dever de casa com atenção e antecedência.

3 – Vaidade

Descrição do Pecado: é como um jornalista em viagem de trabalho, preocupado em tirar fotos e filmar tudo o que acontece em volta, esquecendo-se de contemplar o que visita. Tira mais fotos de si mesmo do que das atrações. Um comportamento cada dia mais comum no mundo regido pelo Facebook.

Exemplo: na Igreja que fica no castelo de Praga há um belo vitral logo na entrada. É de cair o queixo, sem dúvidas. Sentei por ali e fiquei observando quem entrava. Os turistas sem câmeras nas mãos ficavam mais tempo olhando o vitral, boquiabertos. Já os que entravam com câmeras em geral não esboçavam qualquer expressão, pareciam mais preocupados com o registro. É o tipo de gente que tira tanta foto que – ao voltar para casa – pergunta-se: o que é isso mesmo?

Solução: uma técnica boa é dividir a visita às atrações em duas. Na primeira etapa você só anda e observa. Na segunda faz os registros. Garanto que será bem melhor. Agora, se você quer lembrar detalhes dos lugares que visitou, sugiro que tente desenhar o que está vendo (se tiver tempo). Não precisa ser bom desenhista, apenas tente. Isso obrigará seu cérebro a se focar nos detalhes e certamente será mais fácil de lembrar depois.

4 – Mesmice

Descrição do Pecado: esse viajante tinha medo de viajar, mas um dia finalmente saiu da concha e visitou um determinado lugar. Desde então é só para lá que ele vai.

Exemplo: uma vizinha de porta já visitara Miami sete vezes. Perguntei seriamente porque ela não escolhia um outro destino. No resumo da conversa, me pareceu que ela tinha relutado muito para fazer sua primeira viagem internacional. Receava o que poderia encontrar, conservava certo medo. Quando finalmente o fez, visitou Miami. Sentiu-se segura lá e por isso reluta muito em visitar outro lugar, pois provavelmente a sensação de medo voltaria.

Solução: é preciso fazer coisas novas, caso contrário a rotina fará a vida passar mais rápido. O danado é que coisas novas estão fora da zona de conforto, aí aparece o medo. Lute e encare, vale a pena.

5 – Ignorância

Descrição do Pecado: sem qualquer conhecimento preparatório antes da viagem, esse incursionista sofre por não entender o que está vendo. Rapidamente entedia-se e quer voltar para casa.

Exemplo: em um vôo desde Nova Iorque um rapaz me confidenciou – num raro ato de bravura – que perdeu tempo ao visitar o Museum of Modern Art (MoMA), uma vez que não entendia nada de arte. Eu perguntei então porque ele foi. “É uma das principais atrações da cidade, não podia perder”, respondeu.

Solução: estude, pesquise. Por que visitar o Louvre se você não se interessa por arte? Será legal por cinco minutos, depois ficará chato. O melhor é fazer uma leitura básica para compreender o que se vê. Sendo assim, aqueles prédios velhos e aquelas muitas estátuas farão mais sentido e a viagem será mais interessante.

6 – Consumismo

Descrição do Pecado: o país tem uma cultura riquíssima, mas esse viajante só curtiu mesmo os shoppings locais.

Exemplo: uma amiga de infância – em visita à Madrid – relatou sua aventuras consumistas na capital da Espanha. Perguntei se ela tinha visitado o Prado, ele respondeu que o nome certo da marca era Prada.

Solução: já é possível fazer compras pela internet. Tirando um souvenir ou outro, viaje para contemplar, não para fazer a mesma coisa que você já faz em casa.

7 – Mentira

Descrição do Pecado: esse viajante passou poucas e boas durante sua viagem, mas quando volta afirmar a todos que tudo foi perfeito.

Exemplo: no albergue em Roma conheci uma garota e saímos para conhecer as ruínas. Lá pelas tantas ela pisou em falso e torceu o pé. Não foi nada demais, mas a coitada mancou a tarde inteira e reclamou muito da situação. Dias depois, ao adicioná-la no Facebook, pude ver as fotos do dia em questão. Sabe qual foi o comentário dela? “Dia perfeito em Roma”, nenhuma menção ao ocorrido.

Solução: não zombe da inteligência das pessoas. Nós sabemos que durante uma viagem coisas acontecem, ruins e boas, grandes ou pequenas. Seja sincero e tenha em mente algo muito simples: nada é perfeito. E se o pé frio for muito grande, o jeito é rir e voltar outro dia.

Pedro Schmaus

PS: há sempre uma grande comoção nos comentários dessa coluna, em especial sobre a maneira como eu acredito que uma viagem deve ser conduzida. O principal argumento se relaciona ao fato de que um indivíduo deve fazer o que lhe “deixa feliz” e que eu – tirano e dogmático – não respeito esse princípio. Ora, na minha falta de sensibilidade acreditei estar claro que meus textos aqui têm caráter opinativo. Fosse minha vontade escrever uma coluna informativa, faria entrevistas e mostraria pontos de vista. Fosse meu desejo escrever sobre os anseios dos outros, me contentaria em publicar apenas uma coluna com o título “viaje como quiser” e qualquer outra ideia a mais seria desnecessária. Ambos os casos não se aplicam a essa coluna. Aqui julgo as coisas de acordo com o meu prisma. Isso é diferente de interferir na liberdade de alguém. Você quer para a Disney com 30 anos de idade? Muito bem, vá, é seu direito, mas não espere que eu não ache isso uma imbecilidade e – mais – não espere que eu não opine sobre isso.