Viagens artificiais

No seu álbum só encontrei fotos dos dias ensolarados, mas eu sei que choveu. Aquela pose em Paris pareceu tão natural. Quantas vezes você fingiu que olhava a Torre Eiffel distraído antes de escolher a melhor mentira para publicar? Quantas horas digitou para disfarçar o que fingia viver? Demonstrou fascínio por uma foto sem filtro como se gritasse em um momento de lucidez: olha, dessa vez é de verdade.

Eu conheço seu segredo. Eu sei que o céu não tinha essa textura e a rua não possuía tantas cores. Eu sei o que você levava no coração apesar dos sorrisos na rede social. Sei também que você não precisa de nada disso.

Levante a cabeça para respirar. Saia do redemoinho. Os grandes momentos da vida não aceitam registro. Preste mais atenção. Guarde a tela no bolso. Esqueça as curtidas e as visualizações. Esqueça a necessidade de aprovação. É sério, preste atenção. Calce o tênis, carregue a mochila e viaje de VERDADE. O mundo vai lhe quebrar os ossos mais de uma vez, mas os ossos se remendam. Mil vezes mancar pela verdade que correr pela mentira.

As cobranças das escolhas chegarão para todos nós. Restará de pé quem teve a coragem de mergulhar nesse abismo imprevisível que é a realidade. Restará de pé quem não se escondeu. Restará de pé o orgulho de quem não temeu a vida.

Pedro Schmaus