Crítica “O Exterminador do Futuro: Gênesis” ≈ Cine Verité por Rafaela Gomes

Existe um apego a filmes e franquias oitentistas. Inevitavelmente, o público que teve a oportunidade de acompanhar essas produções no seu auge se apropria do que está por vir, com aquele sentimento saudosista que jamais o liberta. É inerente. Todo mundo que já ‘esteve lá’ e viu de perto o momento em que filmes como “O Exterminador do Futuro” encontram os olhos do público, cria esse criticismo (no melhor sentido) que vai na jugular de reboots, remakes ou continuações. Acontece comigo, acontece com vários outros.
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E não seria diferente com “O Exterminador do Futuro – Gênesis”. Já mexeram tanto com os dois primeiros clássicos concebidos por James Cameron, que nos depararmos com um quinto filme que descontextualiza a trama original, de fato aguçaria os sentidos mais analíticos e clínicos dos apaixonados pelas obras originais.

E o novo filme, que faz um reboot do clássico de 1984, é confuso. A trama parte do ponto principal da história original e seu começo nos dá a entender que algo bem melhor do que as produções de 2003 e 2009 está por vir. Mas ao contradizer todo o roteiro escrito por James Cameron, anulando a premissa da existência de “O Exterminador do Futuro”, o novo filme desconsidera tudo que nos foi apresentado em 84 e 91, reduzindo uma das maiores experiências cinematográficas às cinzas amargas nos lábios dos vidrados por essa ficção científica de outrora.

Logo na primeira meia hora de filme surge questões tão relevantes que permeiam até a mente de Kyle Reese (Jai Courtney), que está tão confuso quanto nós e tão perdido dentro do novo contexto gerado. O passado de 1984, não existe. Tecnicamente, tudo não passou de um passado que seria um presente, se algo mirabolante – e mal explicado – não tivesse acontecido em 1973, quando Sarah Connor (Emilia Clarke) tinha apenas 9 anos de idade. Como esse “algo” aconteceu (estou tentando ao máximo fugir de spoilers), tudo que vimos no clássico oitentista acabou não acontecendo. Confuso? Imagine para James Cameron.
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Os furos no roteiro não apenas anulam e contradizem os filmes anteriores, como criam um 1984 paralelo, aonde John Connor (Jason Clarke) nem chega a ser concebido e que leva os personagens Sarah e Kyle a uma viagem no tempo a 2017, onde estranhamente o filho dela se encontra desde 2014, vindo de 2029. Sim, aquele mesmo cara que não foi gerado no passado dentro da nova trama existe no futuro. Que é o passado de 2029, onde a Resistência e a Skynet se digladiam em uma era pós-apocalíptica.

Com toda essa confusão, aproveitar a experiência dentro do cinema se torna um pouco pesado. Como a trama não justifica e nem tenta preencher as inúmeras brechas abertas, ficamos à deriva, esperando explicações ou momentos decisivos que honrem os filmes precursores, à medida que tragam também uma nova história.
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Mas “Gênesis” não é de todo mal. Assistido dentro do contexto de sua origem, o filme é realmente fraco e não alcança a maestria dos primeiros (algo que, honestamente, é muito difícil de atingir). É falho em inúmeros aspectos quanto à construção da trama, mas quando assistido isoladamente, o peso da experiência logo citado, é reduzido e aproveitar a produção como um filme de ação nos contenta.

Talvez, analisar o filme como uma obra única, sem qualquer ligação com os originais, seja a “suspensão de realidade” necessária em nós. Quando desligamos a memória de 1984 que nos persegue durante a produção, “O Exterminador do Futuro – Gênesis” se transforma em um filme de ação agradável.
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O dinamismo das cenas de alto impacto está sempre presente, o que mantém o ritmo do filme elevado a todo tempo. Com uma produção no estilo blockbuster, ele cumpre seu papel: belas explosões, frases de efeito com leve tom cômico e perseguições alucinantes encabeçadas por Arnold Schwarzenegger. Os efeitos especiais são impecáveis e a remasterização das imagens extraídas do clássico original foi tão bem feita, que a qualidade se assemelha às filmagens feitas com a tecnologia atual.

No final de tudo, estamos diante de um filme que gera sentimentos dúbios. À medida que o apreciamos como uma produção despretensiosa, também nos revoltamos pela desconstrução do que já vimos, de forma que nos confunde (afinal, eles usam o original para dizer que ele, de fato, não existe). Talvez nós precisemos nos desprender dos filmes antigos, pois os novos são feitos pra outra geração, que pouco ou nada conhece o que conhecemos. Ou talvez eles precisem parar de mexer em um dos melhores filmes já feitos.

Sacerdote da Santa Igreja do Culto ao Nintendinho, Ryu se declara um rapaz casto e introvertido, no fundo desculpas para seus constantes fracassos com as mulheres. Adora surfar, mas não sabe nadar e sonha em conhecer uma praia. Ex-modelo, ex-feirante, ex-atriz, ex-torcedor do Mixto, Evel na verdade é um extraordinário colecionador da série telecurso 2º grau, sabe de cor e salteado todas as lições de química e marcenaria contemporânea. Amante da boa cozinha, não dispensa um churrasco de gato no boteco da Zuleide. Adora aventura e sempre que pode arrisca-se no truco indoor, desde que o ambiente seja refrigerado. "Onde há flor não há envido!"