De volta do exílio involuntário forçado pelo mensalão

Para quem gosta da coluna, ótima notícia. Para os que não gostam, só resta o de sempre: sufocar de raiva, pois estamos de volta, após três meses ocupadíssimos cobrindo o mensalão. Neste período, deu pra pensar em algumas coisas para manter o conceito da coisa aqui com algumas concessões a sugestões de amigos (olha só que incrível, eu até gosto de ouvir algumas pessoas). Como de praxe, não vou explicar as mudanças, mas quem sabe ler entenderá. Quem não sabe, só insistir um pouco que termina entendendo também.

Gosta de zumbis e histórias de terror? Eu também adoro modas de dois séculos

Bem, o título deveria incluir e fantasmas e demais seres sobrenaturais, mas é melhor ir logo ao assunto. Os zumbis fazem parte da tradição norte-americana desde muito antes dos Contos da Crypta. Eles são parte do imaginário saxão e anglo-saxão desde pelo menos o século XVIII. E estou falando só de literatura e não da cultura afro-americana espalhada pelo Delta do Mississipi nem de pactos com o canho feitos por bluesmen nas encruzilhadas.

Se no Novo Mundo, gigantes como Edgar Allan Poe e Herman Melville deram um jeito de assustar meio mundo com seu ideário de culpa protestante filtrada pelo horror sobrenatural, histórias relacionadas a mortos-vivos, fantasmas e possessões também brotam da mente de escritores como Walter Scott, Daniel Dafoe e, especialmente pra este texto, Robert Louis Stevenson desde antes de alguém pensar em fazer uma série televisiva (ou quadrinhos) chamada The Walking Dead.

Claro que a explosão para o imaginário da cultura pop se deu já nos anos 1950, quando aos medos protestantes uniu-se a ideia do fim do mundo via esquentamento da Guerra Fria e ou cataclisma nuclear. Quem estiver a fim de sentir a respiração um pouco suspensa e aquela adrenalina de coração acelerando sem perceber o motivo, pode ir direto em Janet, a Aleijada, do Stevenson. Tem pra baixar num monte de lugares. Portanto, go Google, go go.

Porque perder tempo discutindo é algo que eu gosto de fazer

Quando alguém diz que não acredita em algo porque esse algo não é corpóreo nem visível ou tangível está cometendo um equívoco tão inominável que seria perfeitamente inteligível se a pessoa passasse a ser ignorada pelo resto da vida a partir disso.

A não ser que ele mostre outra língua universal que não a matemática para determinar, descrever e comprovar só o que é corpóreo visível e tangível em proposições equivalentes. Em termos simples: a matemática é o único meio possível de provar a existência de coisas não corpóreas etc etc. E isso não é religião, é fato. Ou você já viu um fóton ou um quark? Mas acredita neles, né?

E a palavra é ACREDITA, porque não sabe ler a língua que comprova a existência deles, certo? Ao mesmo tempo, nem Deus nem os aliens resolveram bater um papinho conosco por meio da única língua possível.

Resumindo, nem a fé nem a ciência tem a resposta para nosso pequeno período aqui, mas irrita ver nos dias que correm qualquer zé-ruela vaticinando que “religiões são seres imaginários, só confio na ciência”. Tem método científico nenhum, leu porra de livro científico nenhum, mas quer dar uma de bonzão na base do puro e simples aparecimento e tapinha conveniente nas costas dos amiguinhos. Um apoia o outro numa guerrinha bastante ridícula de curtir e compartilhar nas redes sociais desta vida de início de século 21.

Sobre o assunto, alguém mais tarimbado que eu disse certa vez

“Quando alguém está honestamente certo 55% do tempo, isso é muito bom e não faz sentido discordar. Se alguém está 60% certo, isso é maravilhoso, sinal de boa sorte… mas o que deve ser inferido sobre estar 75% certo? Os sábios diriam que é algo suspeito. Bem, que tal 100% certo? Quem quer que diga estar 100% certo é um fanático, um criminoso e o pior tipo de crápula”. Velho provérbio judeu da Galícia, citado por Czeslaw Milosz, no Mente Cativa.

Sorria, sorria, a vida é quase insuportável, mas tem gente que a faz legal

Quem não está mais aguentando a expectativa para ver duas das biografias mais aguardadas da história (uma real e outra fictícia), A Vida de Pi, e Hitchcock, uma adaptação de livro sobre o making of de Psicose, sorria. Você não está sozinho, eu já gastei quase três caixas inteiras de Lexotan e nada foi resolvido. Continuo ansioso.

Pra matar um pouquinho a vontade (ou aumentar, vai saber), lê algumas coisas legais sobre aqui ó e aqui também.

E por falar em porquê prefiro os mortos-vivos aos vivos-mortos…

“Particularmente, desconfio de políticos ou representantes do Estado (poucos escritores e artistas confiam) e acredito que as pessoas entram na política por duas razões: uma negativa, a de não terem talento para mais nada; outra positiva, a de que ter poder é sempre delicioso. Contra isso deve ser considerada a verdade de que o governo cria leis saudáveis para proteger a comunidade e, no grande mundo internacional, pode ser a voz de nossas tradições e aspirações.

Mas ainda é fato que, em nosso século, o Estado foi responsável pela maior parte de nossos pesadelos. Nenhum indivíduo ou associação livre de indivíduos poderia ter chegado às técnicas de repressão da Alemanha nazista, ao massacre de bombardeios intensos ou à bomba atômica. Departamentos de guerra podem pensar em termos de milhões de mortos, enquanto o homem médio pode apenas fantasiar sobre o assassinato de seu chefe. O Estado moderno, seja em um país totalitário ou democrático, tem poder demais, e provavelmente estamos certos em temê-lo.

É relevante o fato de que os livros agourentos de nossa época não sejam sobre novos dráculas ou frankensteins, mas sobre o que poderia ser chamado de distopias – utopias invertidas, em que um governo megalítico imaginário leva a vida humana a um extraordinário extremo de miséria”.

Gostou? Garoto(a) esperto(a), o texto continua aqui e é do Anthony Burgess, tentando explicar algumas coisinhas sobre A Laranja Mecânica, seu ótimo e ainda mal-compreendido livro que acabou de fazer aniversário.

Eu volto, sei lá quando, mas volto. Nem que seja pra puxar seu pé.