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Pedro Schmaus

Para alguns viajar é sempre caro demais

Em meados dos anos 90 a garotada da minha rua foi passar férias em Florianópolis. A grande maioria tinha uns doze anos de idade no máximo. A grana era pouca e nós combinamos que – no último dia de viagem – faríamos um passeio de banana boat para fechar com chave de ouro.

Todo mundo concordou, exceto um garoto chamado Murilo. Ele argumentou que desejava comprar um mini game na feirinha da praia e naquela altura era uma coisa ou outra. Acabou optando pelo brinquedo.

Acontece que o passeio de banana boat foi muito divertido, cheio de histórias maneiras. O evento foi tão marcante que até hoje essa mesma galera se encontra vez ou outra e comenta do passeio. Exceto o Murilo, é claro. Ele não curtiu a aventura porque decidiu comprar algo em vez de viver algo. Eu sempre lhe pergunto:

– E aí Murilo, onde anda aquele seu mini game?

Ele nem se digna a responder. E por mais que disfarce – ao ouvir a alegria dos nossos comentários sobre aquele momento compartilhado – ele se ressente por não ter ido junto. Aprendeu na prática que um bom momento guardado na memória é a coisa mais valiosa que existe.

Você provavelmente conhece pessoas como Murilo. Eles sempre acham qualquer aventura cara demais, mas nunca reclamam do preço da nova TV de plasma…

O deslumbre natural de Pucon

Era noite quando embarquei na rodoviária de Santiago. Seguia rumo a Pucon, uma pequena localidade distante uns 800 quilômetros da capital. A viagem durou a noite inteira. Pouco depois da alvorada subitamente um fantasma apareceu no horizonte. Tratava-se do vulcão Villarrica coberto de neve em um belo contraste com o céu azul. Meu queixo caiu. Era como se a paisagem me dissesse sem qualquer cerimônia: muito prazer, eu sou o sul do Chile.

Enganos aeroportuários

O viajante está com pressa e precisa fazer um deslocamento entre duas cidades. A distância é de 400 quilômetros e há duas vias de transporte: por ar ou por terra. Voar vai custar mais caro, mas serão somente trinta minutos de voo e dinheiro não é problema. Por terra é mais barato, mas são cinco horas.

Naturalmente a maneira mais sensata é o avião, em tese o caminho óbvio para quem tem pressa. Mas e seu eu disser que essa pode não ser a melhor opção? Veja a comparação entre esses dois meios de transporte e note como – dependendo da distância – pegar um avião torna-se a maior furada.

A dura vida do viajante ignorante

Não entendeu a piada? É compreensível. Para serem entendidas (e divertidas) as piadas precisam de referências culturais. Se você não entende a referência não acha nenhuma graça. O mesmo acontece durante uma viagem. Imagine um cara que nunca leu nada sobre arte, como diabos ele vai curtir o Museu do Louvre? A Europa é um exemplo clássico. O camarada sonha conhecer o Velho Continente, mas chegando lá fica entediado porque simplesmente nada daquilo tem significado para ele.

Esse princípio explica o fato de pessoas adultas e sem filhos passarem férias na Disney. Eles adoram porque aquilo faz sentido. Passaram a vida inteira assistindo filmes como o Rei Leão e a Bela Adormecida, essas são suas referências culturais. Em lógica similar funciona o comportamento da dondoca que foi a Londres e não visitou o Museu Britânico, mas ficou três horas na loja da Louis Vuitton. É questão de interesse.

Made in Japan Parte 1: Kawasaki

modelo-dm Seu pai vende quimonos, a situação financeira da sua família não é lá essas coisas. Quais são suas perspectivas? Que profissão você irá escolher para ganhar seu sustento? Fosse um homem qualquer, o senhor Shozo Kawasaki teria escolhido um rumo muito mais simples para a sua vida. No entanto, ele era uma dessas pessoas capazes de realizações extraordinárias. A primeira delas foi uma escolha: ser dono de um barco.

Kawasaki morava em Nakasaki, local que abrigava o único porto aberto ao Ocidente naquela época, meados do século XIX. Com muito custo conseguiu comprar um barco. O enchia de mercadorias e criava novas rotas de comércio, tornou-se um empresário próspero. No entanto, eis que “o destino cruel e traiçoeiro marcou a hora e o lugar”. Seu barco afundou por causa de uma tempestade. Anos e anos de trabalho duro terminaram no fundo do mar… Mas Shozo tirou dali duas importantes lições. A primeira delas era que os barcos japoneses não prestavam. A outra se tratou de uma escolha ainda mais ousada. Shozo Kawasaki não seria somente dono de barcos, mas seria também um construtor de navios.

A trinca mágica da Ferrero: Nutella, Kinder Ovo e Tic Tac

Meses de desespero cobriam a Itália de 1946. Um ano após o fim da II Guerra Mundial, o país segue arruinado pela desastrosa atuação de Mussolini no conflito. Os problemas de abastecimento são enormes, faltam até as matérias-primas mais básicas. Em meio a esse contexto, um confeiteiro chamado Pietro Ferrero resolve abrir um negócio para vender em potes uma receita antiga de creme de avelãs com chocolate. Chamada de giandula, essa receita do norte da Itália era consumida pelas pessoas como um alimento energético. Pietro batizou seu produto de Supercrema Ferrero e jogou num mercado consumidor absolutamente empobrecido. Um potinho de Supercrema poderia ser até considerado caro, mas o que atraía os clientes era a idéia de que ele era bastante nutritivo. Então valia a pena comprar um pote daqueles, uma vez que você ficaria alimentado por mais tempo.

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