O Comedor de Lixo: O primeiro livro interativo da Blogosfera brasileira – Capítulo 7 – O que nasce do ódio?

 

“…ele observou a tudo, ao sentar-se um pouco afastado do grupo que formou uma roda em volta do homem, que retirou um cachimbo do bolso, desembrulhou uma pequena pedra branca e instantaneamente acendeu o produto…”

“…o alvo principal da iniciativa da prefeitura eram os membros do grupo que possuíam idade mais avançada, já que os gastos do município com esse pessoal, que não produziu em favor da sociedade, eram exorbitantes para as finanças limitadas da cidade…”

“…era vítima da verdadeira arma de destruição em massa, a subnutrição. Imaginou como seria bom estar na cadeia, ser parte comum de um grupo, não precisar vasculhar lixeiras para alimentar-se e poder dormir, todos os dias, em uma cama…”

“…pessoal, a rebelião do presídio começou! O cacete tá comento! Os presos estão tocando fogo em tudo que é colchão e armário. Disseram que têm três carcereiros como reféns…”

COMO PARTICIPAR DO PROJETO ”O COMEDOR DE LIXO”?

LEIA O CAPÍTULO 7 E CONTRIBUA PARA O FINAL DE O COMEDOR DE LIXO.

 

CAPÍTULO 1 – QUAL O PREÇO DA LIBERDADE?

CAPÍTULO 2 – O CRIME COMPENSA?

CAPÍTULO 3 – QUAL CAMINHO TRAÇAR?

CAPÍTULO 4 – O QUE SOU EU?

CAPÍTULO 5 – EM QUAL MENTIRA VOU ACREDITAR?

CAPÍTULO 6 – POR QUE ME QUER BEM?

NOTA DO AUTOR:

Finalmente o novo capítulo está publicado! A estória de nosso herói está chegando ao fim. Participem e decidam qual será o destino final de Rato. Contamos com você…

CAPÍTULO 7:

O COMEDOR DE LIXO – CAPÍTULO 7 – O QUE NASCE DO ÓDIO?

Rato despertou de seu breve sono com o murmúrio de alegria de alguns indivíduos no beco. Um rapaz alto, de cabelos loiros, havia chegado com um pequeno conteúdo envolvido em papel laminado, o que causou comoção ao grupo. Ele observou a tudo, ao sentar-se um pouco afastado do grupo que formou uma roda em volta do homem, que retirou um cachimbo do bolso, desembrulhou uma pequena pedra branca e instantaneamente acendeu o produto. Ansiosos, os outros membros da roda gesticulavam depressa para que ele repassasse o cachimbo.

Ainda muito febril, Rato foi convidado a aproximar-se do ritual. Curioso, levantou-se e se posicionou ao lado de um garoto que, apesar do aspecto físico desgastado, aparentava ter quase sua idade. Passaram-lhe o cachimbo. Todos pareciam saciar-se com aquela substância, Rato cedeu. Puxou uma fumaça espessa, sentiu um forte gosto de plástico e tossiu algumas vezes. Puxou novamente, sentiu uma dormência nas pernas, uma sensação de leveza e a visão turva. Tossiu mais algumas vezes. [1]

Não deu tempo nem de entender o que se passava com seu corpo, uma algazarra havia se formado no beco. Um barulho brusco de freada de um automóvel de grande porte e o grupo rapidamente se dissuadiu pulando cercas, escondendo-se nas vielas e correndo, desesperadamente, pelas ruas. Era o caminhão da prefeitura que, eventualmente, passava pelo bairro recolhendo alguns moradores de rua com a proposta de levá-los a albergues públicos[2]. Na realidade, o objetivo da atividade pública era limpar a cidade [3] dos indigentes, levando-os as cidades distantes, para que não pudessem regressar. Uma estratégia elaborada principalmente na época da alta do turismo, e efetivada na calada da noite.

Rato, mesmo atordoado, conseguiu escapar do beco correndo junto a um grupo de outros jovens. O alvo principal da iniciativa da prefeitura eram os membros do grupo que possuíam idade mais avançada, já que os gastos do município com esse pessoal, que não produziu em favor da sociedade, eram exorbitantes para as finanças limitadas da cidade. A van da prefeitura conseguiu, mais uma vez, sair preenchida para a cidade vizinha.

Enquanto vagava dopado pelas ruas, Rato sentiu mais uma vez seu corpo adormecer. Dessa vez seguido por um tremor e uma forte dor na cabeça. A leptospirose havia evoluído e provocado, constantemente, vômitos e diarréia. Pediu para utilizar o banheiro da borracharia, mais foi enxotado quando perceberam seu transtorno e suas pupilas dilatadas. Evacuou no meio da rua, sem pudor ou vergonha. Encontrou uma lixeira semi-aberta, aonde alguns cães vira-latas farejaram algumas sobras. Expulsou os animais e derrubou a lixeira. Com raiva.

O dia já havia nascido. Entorpecido e confuso, sem saber como livrar-se daquela sensação entranha, resolveu caminhar para o semáforo, onde se sentia seguro e protegido. Imaginou que talvez não deveria ter fugido do beco, pois os agentes da prefeitura poderiam levá-lo a prisão, ao perceberem que ele também consumiu a droga. Havia perdido uma boa oportunidade de por seu plano em prática. Lamentou-se e chutou, com força, uma caixa dos correios. Mais raiva.

No caminho para seu posto de trabalho, encontrou Bino que lhe ofereceu mais uma oportunidade de ganhar 10 Reais. Transportar, mais uma vez, a encomenda para mesma residência:

– Que cara é essa moleque? Ta doidão é? Olha! Vai levar o bagulho de novo ali na casa… Entregue, pegue o dinheiro e saia rápido. Vou estar te esperando no mesmo lugar. [4]

Rato, ainda transtornado, sem responder, pegou o embrulho e caminhou rapidamente para a luxuosa residência. Tocou, repetidas vezes na campainha, até que abriram a porta. Era o médico.

– Do Bino, né?

Rato, surpreso, lembrou do rosto do médico [5] e virou-se para evitar que fosse reconhecido. O homem conferiu o pacote e entregou-lhe o dinheiro, fechando a porta rapidamente com uma forte batida. Apesar de não desejar ser conhecido, Rato indignou-se, por sentir-se, mais uma vez, invisível e cuspiu na porta da casa. Durante a trajetória ao encontro de Bino, resmungou e amassou o dinheiro. Na esquina seguinte, entregou o montante.

– Toma aí teus 10 paus.

– Quero mais dinheiro! O cara deu dinheiro pra caralho! [6]

– Como é pivete? Tá achando pouco é? Você deveria me agradecer, filho da puta.  Vai ficar sem nada…

Bino colocou a nota junto ao maço. Ao virar-se, Rato surpreendeu-lhe enfiando a mão em seu bolso e derrubando o dinheiro no chão. Bino o empurrou, recolheu as notas e desferiu-lhe um forte soco no rosto, derrubando-o. Chutou-lhe o estômago por diversas vezes.

– Tá pensando o que seu mendigo de merda?

Rato permaneceu no chão, agonizando. O efeito da droga havia passado, sentiu fortes dores que lhe causaram mais vômitos. Tentou levantar, mas não conseguiu. Os pedestres que passavam apenas observavam a situação, mas não houve assistência.

Após quase uma hora, as dores no estômago cessaram e conseguiu prosseguir para o semáforo, aonde encontrou Júlio, que o perguntou sobre os malabares com que o havia presenteado, esquecidos no chão durante o tumultuo no beco. [7]

– Não sei mais daquela merda… [8]

Rato sentou-se abaixo de uma das árvores enquanto o sinal marcava verde, pensou em sua impotência diante de tudo. Não conseguia, nem mesmo, ser preso. Não era capaz de receber a ajuda da família de Júlio, nem de administrar negócios, como Bino. Não sabia ler, como o jornaleiro. Quando imaginou que, finalmente, receberia ajuda, foi molestado pelo Padre Lino. Até mesmo quando agonizava no chão, não o percebiam como um ser humano. Só foi percebido, no beco, pois os outros também eram indigentes, mendigos e viciados, a escória de uma sociedade imunda, que despreza quem não tem a oportunidade de produzir em seu favor. Era um corpo invisível perambulando, como um bicho, atrás de comida e de um lugar para repousar seu corpo, agora doente. Não conseguia imaginar uma vida promissora, em seu futuro. Não agüentaria passar o resto de sua vida vagando pelas ruas daquela cidade suja, sem comida, sem abrigo e sem família. Era vítima da verdadeira arma de destruição em massa, a subnutrição. Imaginou como seria bom estar na cadeia, ser parte de um grupo comum, não precisar preocupar-se em vasculhar lixeiras para alimentar-se e poder dormir, todos os dias, em uma cama. [9]

Levantou, ergueu a palma da mão e passou, mais uma vez, entre os carros. Deram-lhe 5 centavos.

Quando o sinal abriu, o jornaleiro pronunciou, com sua voz grave:

– Pessoal, a rebelião do presídio começou! O cacete tá comento! Os presos estão tocando fogo em tudo que é colchão e armário. Disseram que têm três carcereiros como reféns. Já mataram um dos presos. A parte da polícia que não tá em greve, tá acuada na frente do presídio sem saber o que fazer. Eles tão dizendo que só vão parar a rebelião quando aparecer o Governador e o Secretário de Segurança. Tão reclamando pela superlotação e tão dizendo que tem preso lá que já deveria ta solto há mais de ano…

Rato ouviu a tudo aquilo com atenção e resolveu assistir a rebelião, com os próprios olhos. O presídio ficava a algumas horas de caminhada de seu ponto de trabalho, mas, mesmo febril e abatido, decidiu que esse seria um esforço recompensável. Pela segunda vez em sua vida, teve uma idéia brilhante.

PARTICIPAÇÕES NESTE CAPÍTULO:

*Imagem por Marcos Leandro http://etcsa.blogspot.com

1 – willi, Marcos Leandro http://etcsa.blogspot.com
2- Marivone – http://www.umafabulasobreavaidade.wordpress.com
3 – willi
4 – Esperanto
5 – Marcos Leandro http://etcsa.blogspot.com
6 – Egito
7 – Jota Chapagua – http://estrangia.blogspot.com
8 – Egito
9 – Esperanto

PROPOSTA PARA INTERAÇÃO NO PRÓXIMO CAPÍTULO:

1 – O que acontecerá na rebelião do presídio? A polícia conseguirá deter os presos?

2 – Há esperança para Rato ter um futuro promissor? Alguém vê alguma alternativa de vida para Rato?

3 – O que nós, como cidadãos, podemos fazer para que os Ratos de nossa cidade tenham oportunidades de escolherem outros finais para suas vidas? Isso é um obrigação apenas dos políticos?

4 – Qual seu nome, sua idade, sua cidade e sua profissão?

Galera! No próximo capítulo, o final de O Comedor de Lixo!! Deixem suas sugestões para o desfecho da trama! Conto com vocês!

Desde garoto sofre com as brincadeiras de seus professores que na hora da chamada insistem na piadinha “é o Júnior da Sandy?”. Otimista de plantão, acredita em duendes e no Brasil sem corrupção. Não ouviu o último do Caetano, mas achou uma merda. Leu todos os clássicos da literatura universal sempre com uma revista de sacanagem aberta no meio. Inventou a vassoura com MP3 player e câmera digital e pretende ficar rico com isso. Pretende fazer um mochilão a pão e água de Mossoró a Sinop no próximo ano. Nunca viu um disco voador e morre de medo de barata, “mas só daquelas grandes que voam”.